Evento reuniu lideranças de sete cooperativas garimpeiras de diferentes regiões do Estado para debater boas práticas, sustentabilidade e construir o Plano de Ação do setor.
No dia 8 de maio, Cuiabá foi palco do Fórum de Ramos do Cooperativismo Mineral, promovido pela Organização das Cooperativas Brasileiras do Estado de Mato Grosso (Sistema OCB/MT). Realizado no Hotel Deville, o encontro reuniu representantes de cooperativas garimpeiras de diversas regiões do estado para debater os desafios da mineração artesanal e de pequena escala (MAPE) e construir soluções coletivas para um setor mais sustentável, legalizado e fortalecido.
O presidente do Sistema OCB/MT, Nelson Piccoli, destacou a relevância do evento para o fortalecimento do cooperativismo mineral no Estado. “Este fórum é fundamental para alinharmos as estratégias do setor, promovermos a troca de conhecimento e buscarmos juntos soluções inovadoras para a mineração em Mato Grosso”, afirmou Piccoli.
Compartilhando dessa visão otimista, Gilson Camboim, Conselheiro do Ramo Trabalho, Produção de Bens e Serviços do Sistema OCB/MT, destacou a expressiva participação das cooperativas e a qualidade das discussões sobre os rumos do setor. “É muito gratificante presenciar o engajamento das nossas cooperativas na busca por conhecimento e aprimoramento de suas práticas,” destacou.
Para ele, a relevância do encontro reside na oportunidade que as cooperativas tiveram de se inteirar sobre as dinâmicas de mercado, as ferramentas disponíveis e as futuras ações governamentais, elementos fundamentais para impulsionar o seu desenvolvimento. “Este fórum proporciona às cooperativas um panorama completo do cenário atual e futuro, permitindo que possamos trabalhar juntos para fazer acontecer um setor mineral mais forte”, concluiu.

Dione Macedo falou em nome do projeto Ouro Sem Mercúrio
O Projeto Ouro Sem Mercúrio participou ativamente das discussões, representado por Hassan Sohn, coordenador de articulação institucional, e Dione Macedo, coordenadora de sistematização. Ambos integram a equipe técnica que está elaborando estudos técnicos que viabilizarão o Plano de Ação Nacional para a MAPE de ouro no Brasil, em atendimento à Convenção de Minamata.
Dione destacou que o Fórum aconteceu muito apropriadamente quando o Projeto Ouro sem Mercúrio está em sua reta final e permitiu a equipe participar de debates importantíssimos sobre a visão que os garimpeiros têm para seu futuro em questões operacionais, sociais, ambientais e de mercado do ouro, ressaltando principalmente a importância da comunicação e do diálogo sobre ações imediatas e futuras para os compromissos assumidos pelas cooperativas matogrossenses que estiveram presentes.
Vozes das cooperativas: desafios compartilhados e novas perspectivas
O fórum se consolidou como um espaço de diálogo e aprendizado, abordando desde as melhores práticas ambientais e sustentabilidade na mineração até as complexidades da comercialização e exportação de minérios, além do panorama atual do licenciamento ambiental. Para além da troca de informações técnicas, o encontro proporcionou momentos de compartilhamento de experiências entre os cooperados, fortalecendo os laços e a colaboração dentro do segmento.
O evento foi marcado pela troca franca de experiências entre cooperativas já estruturadas e outras em processo de formalização. Para Waldomiro Chmieleski Neto, integrante da Cooperativa dos Garimpeiros da Região Noroeste do Estado de Mato Grosso (COPERNESTE), o encontro foi revelador. “Eu particularmente não conhecia o sistema OCB. A visão que tive hoje, que posso levar para minha cooperativa, vai ser excelente. Vou buscar a afiliação para ter mais recursos e facilidade no nosso trabalho”, declarou.
Ledir Ascubi, Diretor Administrativo da Cooperativa dos Garimpeiros e Mineradores de Aripuanã (COOPEMIGA), reforçou a importância de espaços regulares de encontro. “Esse evento deveria acontecer uma vez por semana. É na troca de ideias que a gente aprende. Cada cooperativa traz uma experiência, e juntas a gente cresce”, disse. Ascubi compartilhou também um esforço interno de ressignificação da identidade professional pela COOPEMIGA: “com nossa cooperativa, tentamos mudar o nome de garimpeiro para minerador, para tirar essa coisa de que garimpeiro é bandido. Quem vive isso sabe que não é assim”.
O colega de Ascubi, Pedro de Alcântara, também da COOPEMIGA, pontuou o papel da OCB como aliada institucional no cotidiano das cooperativas: “quando surgem dúvidas ou resistência sobre mudanças que estamos tentando implementar, chamamos a OCB. Ela valida, orienta, dá segurança. É um divisor de águas para quem quer trabalhar de forma legal, sustentável e eficiente.”
Para Jucelia Margonato, da Cooperativa dos Mineradores de Pontes e Lacerda (COMPEL), o fórum foi muito mais do que um espaço de debate técnico, foi uma oportunidade de fazer com que as demandas reais da base fossem ouvidas diretamente por quem pode apoiar mudanças. “A gente viu a programação, mas não imaginava que seria uma chance de falar das nossas dificuldades e ser ouvida. Só isso já foi maravilhoso”, declarou.
Os participantes deram início à elaboração do Plano de Ação do Segmento Mineral. Essa etapa visa consolidar as discussões e os anseios do setor em um documento estratégico que norteará as ações e prioridades para os próximos anos.
A construção colaborativa desse plano, com a participação ativa das lideranças das cooperativas, demonstra o engajamento do setor em buscar um desenvolvimento mais organizado, sustentável e representativo.
OCB Mato Grosso: apoio técnico e modelo de desenvolvimento
Frederico Azevedo, Superintendente do Sistema OCB Mato Grosso, explicou que o fórum foi o primeiro evento setorial do ano promovido pela entidade e que utilizou a metodologia Canvas para mapear coletivamente os principais gargalos enfrentados pelas cooperativas de mineração: “nosso objetivo é levar informação, mas também escutar. A partir dos desafios mapeados aqui, vamos construir soluções juntos.”
Ele também esclareceu que o registro no Sistema OCB é gratuito, como previsto pela Lei nº 5.764/71, e que a contribuição anual depende do faturamento da cooperativa. “Oferecemos assessoria jurídica, contábil, tributária e regulatória. Além disso, todo o nosso material educativo é gratuito e está disponível em plataformas online como o capacita.coop.br”, explicou.
Frederico ainda deixou uma mensagem para quem ainda não se cooperativou: “o cooperativismo pode parecer piegas, mas não é. É um modelo de vida. O resultado da cooperativa fica no território. Ele transforma a realidade local, gera renda, fortalece vínculos.”
Projeto Ouro Sem Mercúrio: construindo caminhos para políticas públicas

Dione Macedo e Hassan Sohn, ao centro da foto, acompanhados de Gilson Camboim (à esq.) e Nelson Piccoli, Presidente da OCB/MT (à direita).
A presença do Projeto Ouro Sem Mercúrio no evento reforça o compromisso da iniciativa em dialogar diretamente com os garimpeiros e construir soluções viáveis a partir da realidade das comunidades mineradoras. O projeto, que realizou diagnósticos técnicos, econômicos, sociais e ambientais da MAPE de ouro no Brasil, busca subsidiar o governo na formulação de um Plano de Ação Nacional comprometido com a saúde pública, a legalidade e a sustentabilidade.
O fórum foi mais um passo nesse caminho, mostrando que o diálogo entre cooperativas, poder público e iniciativas como o Projeto Ouro Sem Mercúrio são essenciais para transformar a mineração artesanal em uma atividade mais sustentável, segura e reconhecida.