Entre os dias 20 de maio e 3 de junho equipe do projeto realizou visitas, entrevistas e testes científicos em garimpos dos municípios de Poconé, Nossa senhora do Livramento e Peixoto de Azevedo, em Mato Grosso.
Foram 15 dias de diálogo com garimpeiros, chefes das operações e representantes de cooperativas buscando entender as perspectivas de todos os envolvidos na cadeia produtiva da atividade. A equipe multidisciplinar também visitou unidades de saúde para conhecer a realidade dos serviços públicos de diagnóstico, monitoramento e acompanhamento de intoxicações por mercúrio.
Os pontos altos dessa primeira jornada foram uma rodada de diálogo exclusivo com mulheres garimpeiras, em Poconé, e a oficina “O Futuro do Garimpo” aberta à toda a comunidade em Peixoto de Azevedo.
Perspectivas de futuro são em geral otimistas
As perspectivas dos garimpeiros de Mato Grosso para o futuro do setor são diversas, variando daqueles que temem uma possível redução na produção ou até mesmo o fim da atividade, até um grupo que acredita que a produção de ouro aumentará. A grande maioria, no entanto, expressa otimismo e confiança de que a produção se manterá em níveis estáveis por muitos anos.
Dentre os aspectos que poderiam ajudar a tornar o garimpo melhor em termos de minoração de impactos ambientais e sociais, o mais citado foi a melhoria dos procedimentos de licenciamento ambiental e outorga dos títulos minerários para maior agilidade e facilidade para os garimpeiros, seguido do acesso a equipamentos mais modernos e melhores técnicas de gestão ambiental e organização do trabalho.
“Esses dados iniciais do Estado do Mato Grosso indicam sem dúvida uma visão otimista de futuro e um comprometimento dos garimpeiros com a adoção de melhores técnicas e com maior conformidade legal, dois aspectos-chave para a redução dos impactos resultantes do uso de mercúrio na atividade e da própria extração mineral em si. Isto deixa a equipe do projeto muito otimista em relação a resultados positivos efetivos que podem ser trazidos por um programa de assistência técnica, diálogo franco e envolvimento” – comenta Hassan Sohn, Coordenador de Articulação Institucional do Projeto.
Balanços de massa e de mercúrio visam identificar as necessidades para aumento da eficiência e redução do impacto do garimpo
Dentro da premissa de facilitar a adoção das melhores técnicas e demonstrar a relevância de uma assistência técnica consistente para o garimpo, a equipe do projeto realizou coleta de dados e amostras para obter os chamados “balanço de massa” e “balanço de mercúrio”.
O balanço de massa consiste em determinar o percentual de recuperação do ouro extraído pelo processo realizado na unidade produtora analisada. Para isto, é comparada a quantidade de ouro obtida no garimpo com a quantidade de ouro ainda presente no rejeito do processo, medida em laboratório. Em outras palavras, este estudo aponta o quanto de ouro está sendo “desperdiçado” pelo garimpo, e ajuda a mostrar o quanto a adoção de melhores técnicas pode incrementar os ganhos de todos.
Já o balanço de mercúrio visa determinar o quanto desse metal é perdido e em que ponto durante a extração de ouro, o que “além de fornecer perspectivas e dados valiosos sobre questões ambientais e de saúde, desencadeia a necessidade de mudanças comportamentais”, explica Carlos Henrique Xavier Araújo, Coordenador de Atividades de Campo do Projeto.
“Essa abordagem aplicada no projeto é fundamental para promover a conscientização e a implementação de práticas mais sustentáveis na mineração de ouro. Com essa compreensão, podemos tomar medidas efetivas para proteger o meio ambiente e a saúde dos trabalhadores e das comunidades envolvidas. É um passo significativo rumo a um futuro mais responsável e seguro”, argumenta Xavier.
A importância das técnicas para minimizar as perdas de mercúrio parece bem disseminada em Mato Grosso e 100% dos locais visitados utiliza alguma forma de reduzir essas perdas, sendo encontradas inclusive técnicas mais sofisticadas, como uso de capelas com direcionamento de gases para um recipiente condensador em sistema fechado.
Próximos passos
O projeto Ouro Sem Mercúrio segue com as campanhas de campo na segunda quinzena de junho, tendo como destino o Estado do Pará.